Na Beira Alta, agora dita “Interior”, terra das origens dos meus antepassados, quando chegava a Páscoa, havia sempre rancho melhorado. Além do bom Borrego assado no forno, havia muitas outras iguarias, como o Bolo de Azeite, Bolo de Páscoa, Carolos, Chouriças e Farinheiras, Matrucos, Papa de Abóbora, Pão Alveiro, Pão de Ló, Queijo da Serra e Requeijão; Licor de Pêra. Enfim… tudo do bom e do melhor.
Num passado domingo de Páscoa, a família resolveu juntar-se com amigos na minha aldeia beirã, chamada Vila Franca da Beira. Cansados do bulício da cidade, gozávamos o sossego impressionante que nos rodeava, de quando em vez cortado pelo chilrear das andorinhas que pela manhã, voavam rápidas, junto às nossas janelas, a caminho dos ninhos nos beirais. Até o buzinar das carrinhas do padeiro, e do peixeiro, que nos trazia peixe (muito mais fresco do que aquele que por vezes compramos nos supermercados), vindo directamente da Figueira da Foz, não constituíam para nós qualquer desconforto.
Naquele domingo, a anfitriã decidiu-se por um coelho guisado. Sendo muito boa cozinheira, com experiência acumulada ao longo dos tempos, o resultado foi um coelho “divinal”. Nada de coisas complicadas, nem sequer o uso da carqueja, para dar aquele gostinho de mato, como por vezes fazem os caçadores. Nada disso! Era um coelho “caseiro”, comprado a uma vizinha, dias antes da nossa chegada.
a minha casinha de granito
Família e amigos, reunidos à volta da mesa, no pátio que se antevê, nesta fotografia, por trás do muro da casa, enquanto saboreavam o gostoso repasto, iam conjecturando sobre como eram criados aqueles animais, bons talos de couve, boa erva apanhada no campo (por vezes um pretexto justificado para uma boa conversa na caminhada), com aquela paciência, quase “devoção”, que caracteriza este povo. Enfim, cabia-nos fazer as honras a um genuíno coelho caseiro.
Eis senão quando fomos interrompidos pelo apito estridente de uma carrinha que chegava, precisamente a meio do nosso almoço. Indaguei quem seria?. Responderam-me com toda a naturalidade, a esta hora deve ser o homem da ração para os animais.
Num segundo ruiu toda a nossa fantasia. “Coelho caseiro”, só se for por ser cozinhado cá em casa! Fez-me lembrar o empregado do restaurante que, ao ser indagado se a mousse de chocolate é caseira, responde sempre que sim “o meu patrão compra os “poses” na Makro e depois faz-se a mousse cá em casa”…
Como em tudo na vida também neste caso há o verso e o reverso.
Por um lado, a desilusão dos circunstantes por já não poderem deleitar-se com um coelhinho à moda antiga, mas por outro, o agrado de saber que afinal os sinais de interioridade destas terras vai-se esbatendo cada vez mais. Este tipo de modernices, “infelizmente” também já cá chegaram. BL
2 comentários:
veja o lado positivo:tem toda a razão. já não há coehos como antigamente!!!! mas só pelo prazer de o comer ao ar livre e com ar puro, até já sabe a coelho caseiro.e a vizinha até só tem meia duzia de coelhos na coelheira, Logo já é um coelho "personalizado". Bem vista a coisa não fique decipcionado, comeu mesmo coelho caseiro...
Amigo António "Guímaro".
Com essa sua reportagem sobre coisas delíciosas que têm na Santa Terrinha, como chouriças,farinheiras,morcelas,pão de alveiro,carolos,queijo da serra,o nosso famoso requeijão,o pão de ló da Páscoa,a jurupiga,o coelho assado,o tôrdo assado,as inguias o nosso vinho de 13º.graus e tantas outras dilícias.
Assim com tanta coisa boa eu volto logo que possivel.
Parabéns.
Um abração ao Amigo e a toda a Rapaziada.
Rio de Janeiro-BRASIL.
Manuel D.E.Cardoso
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